Protestos, que iniciaram em 1995, ganharão mais uma vez as ruas do país neste 7 de setembro.
Os excluídos e as excluídas tomaram as ruas e avenidas para denunciarem as exclusões que sofrem. Assim é o Grito dos Excluídos e das Excluídas, que há 27 anos tem levado para as ruas os clamores daqueles e daquelas que sofrem com o descaso dos governos, da violência, da morte, da fome, da retirada de direitos básicos para que possamos viver com dignidade.
Protestos estão marcados para acontecer em todo o país e em Santarém não será diferente. O ato está sendo organizado pelas pastorais e movimentos sociais e segue a temática nacional, que é a "Vida em primeiro lugar!". O 27º Grito dos Excluídos e das Excluídas quer mostrar que precisamos estar "Na luta por participação popular, saúde, educação, comida, moradia, emprego e renda, já!".
Seguindo os protocolos de segurança em razão da pandemia, a manifestação sairá da Praça da Matriz, às 17 horas, neste 7 de setembro.
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Cartaz do 27º Grito dos/as Excluídos/as, de Santarém |
27 anos de história: Conhecendo um pouco mais deste movimento
A ideia de construção do protesto surgiu durante a Segunda Semana Social Brasileira, organizada pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), no ano de 1994, cuja temática foi Brasil, alternativas e protagonistas, inspirada na Campanha da Fraternidade de 1995, que refletiu sobre A fraternidade e os excluídos.
Os primeiros protestos do Grito dos Excluídos e das Excluídas aconteceram em 7 de setembro de 1995, em cerca de 170 cidades e levou o tema A vida em primeiro lugar. A organização do Grito não escolheu o dia 7 de setembro aleatoriamente. Esta data foi escolhida para ser um contraponto do Grito da Independência, para levar a reflexão a cerca da soberania nacional, que é o eixo central dos atos. Somente em 1996 que a CNBB ficou à frente da organização, tendo sido as manifestações aprovadas em sua Assembleia Geral como parte do Projeto Rumo ao Novo Milênio (PRNM - doc. 56 nº 129).
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Fonte: Site do Grito dos/as Excluídos/as |
O Grito dos Excluídos e das Excluídas quer mostrar que esta visão de subserviência patriótica, onde as pessoas são levadas a agirem passivamente diante de tantas injustiças e exclusões, precisa ser mudada e dar lugar a cidadãos que participem ativamente na construção de um país que preze pela dignidade humana, que valorize a pluralidade desta nação.
Vale ressaltar que o Grito não pode ser reduzido apenas às manifestações do 7 de setembro, pois ele é muito mais que isso; ele é um processo de construção coletiva que aborda uma preparação antes e depois dos atos, além da afirmação de gestos concretos.
Hino do 27º Grito dos/as Excluídos/as
Vida em primeiro lugar
Na luta por participação popular
Saúde, comida, moradia
Trabalho e renda já
O povo feliz
É o Reino de Deus
O amor prevalece
Entre os filhos seus
O grito é bem forte
E veio anunciar
Que nessa sociedade
Todos têm o seu lugar
Carta do Grito dos/as Excluídos/as 2021
27º Grito dos/as Excluídos/as
07 de setembro de 2021
“Na luta por participação popular, saúde, comida, moradia, trabalho e renda já!”
Perante a situação de clamor de nossa gente não podemos nos calar. Estão
destruindo nossos rios e nossas matas, estão retirando o nosso direito de viver e
conviver. Nosso grito é um basta à todo preconceito, racismo, violência de gênero
e criminalização dos movimentos sociais que lutam pela verdadeira
independência que o Brasil ainda não tem! Bata de discurso de ódio que vitimiza
as classes populares!
Grito de denúncia
A cada ano aumenta o grito dos que são excluídos/as do direito a uma vida digna.
As consequências desse sistema concentrador de renda beneficiam uma minoria
privilegiada da população em detrimento da maioria excluída de qualquer
benefício. Para a maioria sobram a fome, o desemprego, a falta de moradia, a
falta de boa assistência à saúde, a falta de saneamento básico, de pessoas
endividadas, sem perspectivas de futuro, caindo no desespero. O lixão do Perema
em Santarém é um exemplo dessa exclusão. São 160 toneladas de lixo
despejadas diariamente neste local que o poder público apelida de “aterro
controlado”. As recentes manifestações de moradores da vizinhança indicam que
são várias as formas de exclusão social.
Nosso povo vive um momento de luto, com centenas de vítimas fatais devido ao
corona vírus e a má gestão da pandemia. Se 570 mil pessoas perderam a vida
em um ano e oito meses não se pode atribuir simplesmente a uma fatalidade,
pois muitas destas mortes na pandemia do Covid-19 poderiam ter sido evitadas
se tivéssemos um governo comprometido com as Vidas Humanas. Afinal, para
onde foi o dinheiro destinado ao hospital de campanha de Santarém?
No meio rural da região do Baixo Tapajós, os moradores tradicionais estão ainda
mais excluídos, porque a implantação do agronegócio da soja e milho semeia
veneno agrícola diariamente, contaminando igarapés, solo e subsolo causando
doenças nos que vivem da agricultura familiar, mas na vizinhança do
agronegócio. E assim, vai dia a dia aumentando a exclusão social.
Também salta aos nossos olhos a situação dos 13 povos indígenas do Baixo
Tapajós, com suas terras impactadas por projetos e obras de infraestrutura. É
preciso que os povos indígenas sejam tratados com justiça. Recusamos o
procedimento da política oficial que contribui para o extermínio dos povos
indígenas. Exigimos o cumprimento da lei que garante a demarcação de seus
territórios tradicionais e assegura o seu direito à autodeterminação.
Grito de esperança e comprometimento
Não podemos nos calar, é preciso gritar e gritar de vários modos, com a garganta,
com a presença nas ruas, exigindo respeito a nossa dignidade. Hoje, mais do que
nunca, continua importante expressar e gritar: “Povo unido jamais será vencido”.
Insistimos nos valores éticos que devem nortear os interesses econômicos,
garantindo aos homens e mulheres, a dignidade, liberdade e crescimento integral
em harmonia entre si e com a natureza. A cruz não deve ser sinal de rendição,
mas de resistência, de luta, de ressurreição.
Nos juntamos a tantas pessoas que no Brasil afora neste dia estão gritando por
direitos e contra a exclusão. Um grito de denúncia e indignação contra todos os
modos de exclusão. Grito de anuncio de uma sociedade nova pautada pela
justiça, pela democracia e pelo bem comum. Grito de esperança e compromisso
com tantos povos e comunidades constituídos por lideranças, na sua maioria
mulheres, que lutam pela defesa dos seus territórios, pela conservação da
Amazônia, pelo bem viver de suas comunidades.
Comissão Organizadora do Grito dos Excluídos e Excluídas
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